sexta-feira, 29 de julho de 2016

Manter a gravata não é mera opção

“A gravata já não é necessária” é o título de matéria publicada no diário madrilense “El País” de 16 de maio último. A articulista, Estel Vilaseca, baseia-se em reflexões de Vanessa Friedman, jornalista de modas do “The New York Times”, sobre o fato de três figuras de destaque midiático da esquerda internacional — Barack Obama, Pablo Iglesias e Alexis Tsipras — estarem cada vez mais dispensando o uso da gravata e apresentando-se de maneira mais informal e “espontânea”. Ao evidenciar tal proceder, Vilaseca não visa criticá-los nem desestimulá-los em sua tendência despojadora. Pelo contrário, a intenção da articulista é atrair para a esteira rolante que conduz ao neoprimitivismo cavernícola o mundo civilizado. Com efeito, o homem moderno está se aproximando cada vez mais dos cavernícolas... Quem tiver oportunidade de analisar o livro de Melissa Leventon, A história ilustrada do vestuário, da PubliFolha, constata que ao longo de toda a história da humanidade, salvo algumas exceções, os homens sempre buscaram instintivamente se adornar cobrindo o próprio corpo e valorizando sua aparência. Como surgiu o uso da gravata? A civilização cristã aprimorou o bom gosto e as vestimentas se elevaram em categoria e elegância. Isso se deu especialmente na França. Também, em grande parte por influência da “Filha Primogênita da Igreja”, em toda a Europa. A vestimenta era a moldura das boas maneiras, do respeito mútuo e da elevação de espírito. O fato de os homens não serem meros animais, mas sim animais racionais, dotados de inteligência, impôs ao longo da História que eles se apresentassem de modo a expressar sua mentalidade, sua personalidade. O adorno sobre o corpo visa ressaltar a alma. Além disso, pode expressar a dignidade e as funções de quem faz uso desse adorno. Se alguém quiser conhecer a mentalidade de outrem, um indício importante consiste em analisar como ele se veste e deseja ser visto pelos outros. Mas não é só isso. A maneira de se apresentar expressa ainda a consideração do homem em relação aos demais seres humanos. Essa mútua consideração chegou a constituir um ambiente do verdadeiro esplendor de vida, em todos os níveis sociais, como ocorreu na época denominada Ancien Régime. Em seu livro A essência do estilo, Joan De Jean explica ter a gravata sido adotada na França por volta de 1670, durante o reinado de Luís XIV. E o portal G1, de 24 de janeiro de 2009, confirma que em 1618 um regimento croata passou pela França durante a Guerra dos Trinta Anos usando um lenço no pescoço para conter o suor. Posteriormente a nobreza, influenciada por Luís XIV, aderiu à moda, certamente aprimorando-a e popularizando-a com o nome de “cravate”, palavra derivada de croata. A “cravate” tornou-se desde então um símbolo de distinção, masculinidade e honra. Seu uso se prolongou no tempo, durante a Revolução Francesa e todo o século XIX. No século XX ela tomou o formato atual, como um complemento indispensável ao terno. Na realidade, é o último adorno tradicional que persiste no vestuário masculino. No livro-álbum O design do século XX (pp. 140-141), de Michel Tambini, ficam evidentes a transformação da moda e a “neoprimitivização” do vestuário, acompanhando todos os demais aspectos da vida, o que vai conduzindo a humanidade à perda acentuada do bom gosto, da distinção, da elevação etc.
Transformação da moda e consequências morais Há um aspecto mais grave a considerar. As transformações que a moda vem gerando ao longo dos últimos cem anos pelo menos, constituem uma manifestação de algo mais profundo, de cunho moral e religioso. Isso ao arrepio daqueles obstinados em não reconhecer que o afundamento no neoprimitivismo ou no neopaganismo constitui recusa e alijamento, por parte da sociedade atual, de Deus. Nesse sentido, convém registrar que em seu livro Arquivo Urbano, Jussara Romão relaciona o advento da minissaia com a estabilização do uso da pílula anticoncepcional (p. 14). Ademais, na página 169 registra que, na década de 60, “a virgindade foi posta em xeque e a nudez deixou de ser pecado mortal”. Evidentemente, isto se deu apenas dentro de cabeças relativistas da nossa época... e de nenhum modo na inteligência divina! Todavia é preciso reconhecer que a gravata tem-se mantido de uma forma quase inexplicável. Seu uso se mantém nas cerimônias de casamento, na posse de cargos oficiais. Outros exemplos de seu uso poderiam ser citados. Em matéria de vestuário, apogeu da decadência A realidade cotidiana nos revela ad nauseam que estamos chegando ao ponto mais decadente da história da humanidade em matéria de vestuário. Do ponto de vista do bom gosto, nunca as pessoas se apresentaram de modo tão irracional, grotesco, indigno, como em nossos dias, com honrosas exceções. O estilo atual se caracteriza quase como “nada combina com nada nem com a pessoa”. Nesta situação, a gravata representa uma trava, talvez a última, antes de tudo arrebentar definitivamente em matéria de vestuário. Razão pela qual ela merece ser defendida e mantida a todo custo. Lembro-me da resposta do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a um jornalista da “Associated Press”, em 1973, quando este perguntou por que a aparência dos membros da TFP era sempre a mesma, com terno, gravata e cabelo curto, foi-lhe dada a seguinte resposta: “Eu podia virar a pergunta: por que os hippies nunca usam terno, gravata e cabelo curto? A razão é a mesma”. Substitua o leitor os já ultrapassados hippies pelos neocavernícolas de nossos dias e constatará que a resposta valerá ´para estes últimos. Por isso, uso e defendo a gravata. Ela se tornou um símbolo dos que não desejam deixar-se arrastar para o neocavernicolismo. Isso não significa que todos os homens devam usar gravata, mas os que têm razões sérias para seu uso, não devem abandoná-la. Julgo necessário resistir à avassaladora onda de vulgaridade e decadência que atingiu o vestuário contemporâneo. (Artigo publicado na revista Catolicismo de Agosto de 2016, sem a foto acima)

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Neocaverniculismo

Por razões de ofício viajo com muita frequência por vários Estados do nosso Brasil. E me admiro como em todos os lugares o nudismo vai atingindo um grau cada vez mais próximo do “total”. Dentro de não muito tempo vestir-se se tornará incompreensível. Aliás em não poucos lugares quase já o é. À primeira vista o nudismo parece traduzir um anseio de vencer o calor asfixiante que, para quem está descendo dinamicamente essa rampa, a cada ano vai se tornando mais insuportável... É a justificativa mais empregada, para que a pessoa se despoje de suas roupas. Contudo o inverno tem mostrado que isso não é bem assim. Assumindo uma conduta inteiramente ilógica, é frequente depararmos na rua em dias de baixa temperatura com pessoas fortemente agasalhadas, com capuz e os braços cruzados bem apertados ao tronco, mas exibindo os membros inferiores completamente nus e tiritando de frio. Que sentido tem isso?! Seria um exagero dizer que se trata de uma aguda sensualidade pois visivelmente não é o caso. Então o que se passa? A meu ver algo muito mais grave. Na medida que tais pessoas vão diminuindo gradativamente o uso de roupas, vão experimentando uma crescente sensação de libertação. Concomitante a isso vão adotando um abandono também gradual de formas de cortesia, de boa educação, de elevação e de compostura que são valores absolutamente não condizentes com o nudismo. Acima de tudo a religiosidade autêntica também se evanesce. Essa transformação vai tirando de tais pessoas a força para voltar aos graus anteriores de educação e as induz por sua vez a se entregarem cada vez mais à simplificação, ao despojamento, à vida simples, enfim primitiva onde a cultura civilizada cristã é completamente abolida. Quando os valores de elevação, sobretudo os valores religiosos, vão sendo rejeitados e excluídos de nossa vida, é ou não é verdade que, apesar de todo progresso técnico,
nossa sociedade está no rumo de um neocaverniculismo? É só olhar.